mais poemas negros
poema-prece à menstruação
se há um rio
mais bonito que esse
brilhante como o sangue
de profundo vermelho da lua, se
há um rio
mais fiel que esse
voltando a cada mês
ao mesmo delta, se há
um rio
mais bravo que esse
vindo e vindo num rompante
de paixão, de dor, se há um
rio
mais ancestral que esse
filho de eva
mãe de caim e de abel, se há no
universo tal rio, se
há em algum lugar água
mais poderosa que essa selvagem
água
peça pra que também flua
através de animais
bonito e fiel e ancestral
e fêmeo e bravo.
você não vai celebrar comigo?
você não vai celebrar comigo
o que moldei num
modo de viver? não tive modelos.
nascida na babilônia
nascida não-branca e mulher
o que eu vi pra ser, além de mim mesma?
eu inventei
aqui nessa ponte entre
poeira-de-estrela e barro,
essa minha mão; vem celebrar
comigo que todo dia
alguma coisa tentou me matar
e fracassou.
as mulheres perdidas
eu preciso saber os nomes delas
aquelas mulheres com quem eu podia ter andado
confiante do jeito que os homens andam em grupos
gingando os braços, e aqueles
outros incomodando as mulheres às quais teria me juntado
depois de uma longa rodada de conversa fiada
do que teríamos chamado umas às outras, gargalhando,
fazendo piadas tomando nossa cerveja? onde estão minhas galeras,
meus times, minhas irmãs deslocadas?
todas as mulheres que poderiam ter me conhecido,
em que lugar do mundo estão os nomes delas?